I-Atirar-me
Vossas presas apunhalam-me carne.
Vós sentíeis a dor a ser sentida.
Matar-me com breve e só mordida.
O vosso medo tinha em atirar-me.
Mas soer já era em abocanhar-me.
O perene viver ao falecida.
Sentindo-se medo da vil partida.
Qual vosso medo que ao encurralar-me.
E quando dormes coragem acorda,
Quando acordas a coragem me foge.
Que, dia-a-dia me espia tanto quanto dorme.
Tenebroso medo qual tempo à corda,
A coragem que fora medo de hoje.
O medo dum dia mais aziago dorme.
II-Senão traição
Tanto vos busquem formosura e glória.
Do passado fora tão quente e vivo.
Futuro fora-vos exposto ao ri-vos.
Presente queira longe da memória.
Do buscai-vos derrota na vitória.
Do que a permanência ao triste sempre ir-vos.
Do que a senão traição ao ir servir-vos.
Queira mostrar não tanto obrigatória.
Se conviver-vos comigo futuro.
Que epitáfio já meu tão valoroso.
Virar-vos-ia sentença tão penosa.
Do futuro não sejais tanto duro.
Senhora que engana o ser mui ditoso
E vós que temeis futura gloriosa.
III-Caminhada
Do que achar em mais viagens esforçadas.
Se não se sente vento ao abraçar-me.
Depois feita sinto duro cansar-me.
Do senão mais desumana jornada.
És mais do que juntos mil, separada.
Do que uma espada amiga, pois a vazar-me.
Sentir-se-á ferida fria curar-me.
Fora senão verdes à caminhada.
Pícara vida tende dó de mim.
Pois se vos não lerdes vossa história.
Não verá como tão pífia fora ela.
Tirar-vos-ia oxigênio tanto assim.
Como as tropas sua tão buscada glória.
É assim a dura vida a perdê-la.
IV -Usurpar-me o amor
Usurpar-me o amor para perder-vos,
Tina vos resta, cuide redobrado.
Do mantimento mor do ser amado.
Desatinado peito, flor de nervos.
Amor peito não ama quente ser-vos.
Do eu era réu sem culpa a ser julgado.
Errado fora do amor um culpado.
Morte de outros amores em perder-vos.
O amor que quebra após por um fraco elo.
Por sem distância dividir outrem.
Distância ou uns nostálgicos enganos.
Amor não vive sem ser mais detê-lo.
Sem medir ou comparar por ninguém.
Doces ou salgados, mor desenganos.
V- Acaricia vosso gesto
Ó mão que mui acaricia vosso gesto.
Sopra sem conhecer os quentes ventos.
Dos amores longínquos dos isentos.
Amor que volta virtuoso e protesto.
Quis buscai-vos o amor dos vossos restos.
Renascer do amor ilustre instrumento.
Nasce e renasce, amor o pensamento.
Vívido, precioso amor não contesto.
Efêmero amor mor doce ternura.
Olhar-se amor difícil de conter.
Gosto, o prazer viver mor aventura.
Procura ser assim herói não ser
Doce amargo, guerra da paz alvura.
Sem o amor nos corações não viver.
VI -A fome do coração.
Eu quis enquanto fomes tiverem.
Temia o rancor nunca antes magoado.
Que da mente e corpo já me arejados.
Mata quem vos mata e já viverem!
Que a fome vos mata agora serem.
Alimentava-vos não esperados.
Desconcertos e vós esfomeados.
Palinuro a glória mui perderem.
E se o gesto demonstra vossa fome.
Aqui nesse mundo rogo-vos triste.
Segurai-vos suas palavras em mãos.
Se for fome que vos mata, honra o nome.
Almejas a alma que vos não consiste.
Do é mesmo a fome do coração.
VII -Astuta
Quais se transformam humanos em luta,
Transformam alegres em magoados.
Explicam-se, renascem transformados.
Dera vida transformação fajuta.
A vida que arde pela vil mui astuta
Inveja é si mesma, namorados.
Radiantes tão lho eram não invejados.
Temo-lhe a inveja senão a luta.
A inveja que traz morte aos corações.
Transforma o irreal em mil preconceitos.
E a mesma inveja gera tais profanos.
A inveja transforma os bons em vilões.
Eu que nunca temi algo tremi o jeito.
Que poderosa inveja dos humanos.
VIII -Tormentos
O monstro que me rouba os olhos tão.
É monstro frio, habita-me reluzente.
E anestesia-me já que fatalmente.
E dói-me pelo corpo ao coração.
Matai-me a outros não pede perdão.
Canta-me a vilã, ladra docemente.
Mata-me os sentidos muito vilmente.
Dor que nos mata hoje respeita não.
Dor pela dor do amor também honesto.
Foi doce o que amargou o vivo morreu.
Também tanto mar, não fora usurpar.
Vilãos tormentos tanto mal funestos.
O peito trazia dor no que perdeu.
Amar perenemente foi a doar.
IX -Merecer-vos.
Em ti, a si mais nunca vou merecer-vos.
Jaz-se em corpo já violento tormento.
Do, igualmente, jazia alma eu muito atento.
Fartos fatos fardados decorrer-vos.
Os quadros se não vistos entender-vos.
Acha melancolia contentamento.
E a dor vos resta do desprendimento.
Aumento a dor dos fados de soer-vos.
A praça, cá dor fora de fundada.
Queimar-me a dor de quando vira o olho.
Adejar todo e grandioso mundo.
Coração quebra, quebra alma magoada.
Do antes que morre nunca viva lho.
Dói sem doer, vive sem viver profundo.
X -Desbravados
São termos muitos si tão desbravados.
Porque da mente humana não amar-lhe.
Do sinto sem sentidos adejar-lhe.
Mundo em si não que lhe sobrevoado.
Quão convém alma o coração furtado.
Será que foi vilão quando roubar-lhe.
Os bafos dos zéfiros a esquentar-lhe.
Mundo e amor mores tanto sagrados.
Levo ao peito a espada, na alma a cruz,
Na mente os estreitos, no colo vil.
Nas mãos a alma, nos olhos queira luz.
Queria-vos se a vida muda-se mil.
Veias e vasos, mentes, corpos nus.
Cor não se define qual vida anil.